A menos que você
seja uma rainha... Se for esse o caso, perdão, majestade!
...
Até que uma
mulher se torne mãe, é comum que ela mal observe a forma como os filhos das
outras mulheres são educados. Em regra, as crianças são “umas fofas” ou “umas
chatas”, simples assim!
Com a maternidade,
o encanto que a envolve é tamanho que a mulher se transforma.
Muitas, compreendendo
intuitivamente a importância do seu novo papel, trabalham incansavelmente pela vida que lhe fora entregue em confiança. Outras, no entanto, se perdem
no encanto, na magia, na satisfação em ter aquele bebê nos braços e passam a trata-lo
como se fosse “o mais lindo sobre a face da Terra”.
A ninguém é
permitido tirar de uma mãe a sensação de que gerou “o mais belo dos belos”. As mães
têm todo o direito de sentir-se assim porque é verdade! É a sua verdade!
O problema é que
todas sentem da mesma maneira. Todos os filhos são “os mais lindos do mundo”.
“Ah! Mas nem sou
eu, TODO MUNDO acha meu filho lindo!!!” De fato há crianças de beleza
estonteante. É uma delícia olhar para elas! É uma delícia receber, através delas,
elogios que a própria mãe nunca recebeu nem receberia se não fosse assim. Ela se
projeta no filho (principalmente na filha) e se satisfaz plenamente! O ego
grita!
Apesar de
difícil, cabe a cada uma controlar seu sentimento de forma a não impor a sua
verdade às outras mulheres. Mas para se controlar, é preciso de uma dose
carregada de consciência. Do contrário, não se encontra razões que superem a
satisfação que o ego proporciona.
A sensação é
mais ou menos a seguinte: “Pronto! Chegou a minha vez! Esperei demais para
sentir isso!” E sente, e transborda, e espalha um sentimento absolutamente
comum como se fosse exclusivo. Não se vê agindo assim e nem é capaz de avaliar
as consequências dessa postura. Mas não foi para massagear o ego das mães que os
filhos vieram ao mundo! Muito pelo contrário. Vieram para, entre muitas coisas,
ensinar a elas o amor incondicional.
Comportar-se
como se o seu filho fosse “o melhor do mundo” acarreta:
1. Num
sentimento bastante amargo por parte das outras mães
2. Na competição
acirrada que reina entre as mulheres
3. Em estragos
de proporções inimagináveis para a vida do seu próprio filho
É evidente que os
momentos de afeto são fundamentais e que palavras carinhosas tornam as crianças
mais seguras e felizes. É muito saudável dizer para uma filha:
“Meu amor!” (Sim,
o amor é seu e você o dedica a ela!)
"Minha querida!”
(De bem-querer. Ela é querida para você? Diga!)
“Coisa fofa da mamãe!”
(Bebês são fofos mesmo!)
“Como você está
cheirosa!” (Hum... cheirinho de bebê... delícia!)
Nada disso é
mentira e, portanto, não faz mal.
Agora... Em
reiterados momentos de empolgação reafirmar para uma criança que ela é “a coisa
mais linda DO MUNDO”, “a melhor DE TODAS”, “INSUPERÁVEL”, blá-blá-blá..., uma
PRINCESA!
Tem certeza que não
há, no mundo inteiro, uma criança mais linda que a sua? Trata-se de uma opinião
unânime? É a melhor e insuperável em que? Em tudo? Na beleza, na inteligência,
na herança, no carisma? Há um reino, com súditos e muita riqueza para a sua
princesa, ou você faz parte dos que trabalham para pagar as contas?
Ora, avalie com
sensatez a reflexão proposta. Chamar sua filha de princesa não seria um problema
se você não a tratasse como tal. Da mesma forma, de nada adianta eliminar a
palavra “princesa” do seu vocabulário, mas permanecer com um comportamento que reafirme
silenciosamente que o mundo fará tudo o que ela quiser. Obviamente não será
assim. Em algum momento essa expectativa será duramente frustrada!
O príncipe encantado
não vai aparecer, não haverá serviçais, nem palácio, tampouco a promessa de
vida perfeita com um final feliz.
A vida é séria e
deve impor rigor e disciplina para que ela entenda o significado da palavra
sacrifício e aprenda a valorizar seus dias. Do contrário, sua filha se tornará
um poço de frustrações. O vazio que ela experimentará poderá ser o responsável por
desequilíbrios que levem a uma infelicidade profunda.
Pior do que todo
esse sofrimento será o momento em que ela perceber a parcela de culpa da própria mãe nesse processo.
Verá que a mãe, ao
invés de conduzi-la pela vida de forma realista e torna-la capaz de lutar pelas
próprias conquistas, a fez acreditar num mundo fantasioso, construído com base
em elogios, competições e a falsa ideia de que era uma princesa.
Ao se tornar
adulta, no lugar de uma alma preenchida estará um enorme vazio.
Sem qualquer
informação acerca da sua própria existência e sem compreender o que “fizeram”
com a sua psiquê, buscará ser feliz como puder (como todas estão buscando):
consumindo, se expondo, sustentando estereótipos, demonstrando carências
profundas ou egoísmos absurdos, comendo compulsivamente, bebendo, fumando,
adotando posturas agressivas, usando drogas.
Não importa a
forma, são todos recursos que entorpecem um desconforto que a alma manifesta.
É triste!
Em pensar que o
bebê chegou cheio de encanto e gerou tanta satisfação!
Seria possível
lembrar-se, quando estiverem a sós (você e seu bebê), que está em suas mãos a
felicidade dessa criança? Seria possível despender uma dose razoável de esforço
pessoal para controlar os impulsos do seu ego?
Isso poderá
render-lhe uma felicidade moderada, porém permanente a ser experimentada ao
longo da vida.
Sem essa
consciência, toda satisfação será desperdiçada na primeira infância e os frutos
da adolescência e vida adulta poderão estar irremediavelmente comprometidos.
Revista-se do
poder que a força da criação investiu em você. Observe as manifestações do seu
ego. Saia dessa “faixa” degradante em que a maioria das mulheres se encontra. Faça
a diferença pela felicidade dos filhos. Assim, eles poderão ser melhores para
eles próprios e não “melhores do que os outros”. Essa é a sua contribuição!
Imagens: Gettyimages