Em pleno carnaval, não dá pra deixar de observar a postura
coletiva de “tudo pode”. Tudo o que? TUDO! Pode beber, pode usar droga, pode
viver aventuras sexuais de todo tipo, pode experimentar um parceiro, dois,
muitos, beijar quem “lhe der na telha”, exagerar na exposição do corpo, adotar
uma postura que jamais teria. Homem “liberando” geral e mulher “dando” geral, num
quadro de pegação total e irrestrita.
Mas quem disse que pode?
O inconsciente coletivo vem dizendo há décadas.
Salvo engano (e posso mesmo estar enganada, porque não pesquisei),
uma festa cristã que servia como preparação para o longo jejum em função da
quaresma, transformou-se numa orgia coletiva. Observe: se o jejum seria longo
(40 dias), na pré-quaresma (hoje carnaval) comia-se fartamente para PREPARAR-SE
para o período de restrições (era necessário estar nutrido para suportar). Mas com
o tempo, passou-se a comer fartamente para COMPENSAR a perda que adviria (Putz...
40 dias! “Vamo detoná!”). Evoluiu-se para a diversão exacerbada, já que a
quaresma guarda um respeito cristão e divertir-se nesse período seria
condenável (Véio... 40 dias sem comer, dançar, chapar... Solta o som DJ!).
Primeiro a preparação, depois a compensação e, mais tarde, a
diversão.
Eis que se chegou à “operação f@dª-se”. Ninguém mais se lembra
do que motivou o carnaval, só se sabe que as máscaras e fantasias estão aí para
quem quiser se camuflar.
Mas quem não quiser camuflagem, fique à vontade – diz o inconsciente
coletivo – você é livre, pode tudo, pode mais, faça! Use camisinha, mas se não usar,
tudo bem também! Afinal, chapado, zuado, louco, quem é que consegue colocar um
preservativo? Quando vê (se é que vê), já foi! E aproveite para experimentar
todos os tipos de sexo, com todos os tipos de pessoas porque na semana que vem
a rotina chata e vazia volta e sua chance se foi. Toda essa fartura, só no
próximo ano!
Até aqui, sem críticas. Estamos constatando fatos. Com
consequências, mas apenas fatos.
Como “consequências”, não me refiro à gravidez indesejada,
tampouco às doenças sexualmente transmissíveis. Isso todo mundo já sabe e
subestima fortemente. Refiro-me aos desequilíbrios que compõem o pano de fundo
da grandiosa festa do carnaval. Uma triste realidade de pessoas que buscam
desesperadamente uma experiência mágica. Sabem que o sexo guarda sensações
indescritíveis e fazem qualquer coisa para encontra-las. Mas não encontram... Sentem
umas coisas loucas e estranhas, umas descargas de adrenalina, uma euforia, mas que
nem de longe se aproxima da magia que se imagina.
Vive-se um cio permanente que, extrapolado pela
permissividade coletiva, só faz aumentar a sede pela satisfação sexual que nunca
vem. A busca é intensa, a experimentação é excessiva, mas de real mesmo, apenas
o exaurimento. Magia e saciedade que é bom... NADA!
É tão pesado e dolorido que não dá para explicar neste post qual
a magia. Já falei sobre ela e recomendo a leitura dos outros textos. Neste momento,
apenas registro meu profundo respeito pela ignorância que assola uma nação. Dirijo-me
especialmente às mulheres. Foram tantas amarras, surras, humilhações e
fogueiras que a postura carnavalesca feminina torna-se perfeitamente
compreensível. Difícil de aceitar e necessário combater essa ignorância, mas compreender
sua origem é função.
Há poucas décadas mulheres morriam ao tentar manifestar sua
energia sexual e suas convicções pessoais. A resposta dessas mulheres, através
de suas herdeiras, ainda que num quadro de desvalorização do eu, está diante
dos olhos do mundo e todos podem ver que a liberdade delas chegou.
Na absoluta contramão de tudo isso está uma gota de
consciência que tenta se espalhar através de um grupo e alguns livros. Torna-se
robusta a cada evento, aumenta e se fortalece no coração de algumas mulheres que
ouvem atentamente uma informação que, se lhes toca e se aproxima da verdade
pessoal de cada uma, torna-se fonte tênue de alívio e compreensão de si mesmas.
Da minha parte, compartilho: é lindo vê-las se compreendendo
e se resgatando a partir das próprias forças.
A informação é comum a todas e óbvia, mas as avós nunca
ouviram e, assim, nunca disseram para as mães que, sem saber, não contaram para
as filhas.
Mas de alguma forma hoje falamos, discutimos, compartilhamos.
De alguma forma, várias mulheres estão encontrando respostas. Não sei como, palestras vêm acontecendo e passei a poder falar pessoalmente, olhando para quem recebe a
informação.
Não imaginava que seria assim...
Agradeço profundamente porque tentando ensinar, aprendo!
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