segunda-feira, 16 de julho de 2012

POR UM FIO...


Banho preparado, água quentinha e um bebê, já sem roupa, rindo sobre a cama. Esticou os bracinhos e deu um abraço. Seu cheirinho e calor provocaram saudades de um momento presente porque sei que o calor não é eterno e muitas mães já não podem fazer isso...

Decidi escrever, nem sei por que. Acho que nunca havia sentido algo parecido. Até me tornar mãe, o mundo era um, mas agora tudo mudou. Ser responsável por uma vida me faz ver, nas atitudes das outras mães, consequências boas e ruins refletidas nos seus filhos. Bebês, crianças ou adolescentes, não importa! Todos filhos... muitas consequências.

Observo e questiono: Bebês com problemas emocionais? Crianças com dificuldade de aprendizado, de concentração, violentas ou doentes? Adolescentes com doenças incuráveis?

Até pouco tempo, me sentia indignada por não ter respostas. Alguns sofrimentos eram inaceitáveis para mim. Um bebê com câncer, por exemplo, era inconcebível! Qual o propósito divino de tanta dor para um inocente? Permaneci assim, inconformada, até ouvir que a doença de um bebê, em regra, é lição para os pais. Fez todo o sentido! Se o aprendizado fosse da criança, a doença se manifestaria quando ela pudesse entender seus porquês e não na fase da inconsciência.

Muitas mães não tem “a menor noção” das consequências das suas escolhas e atitudes. Os perfis são inúmeros: temperamentais, consumistas compulsivas, arrogantes, excessivamente carentes, ciumentas, inseguras, invejosas, críticas, mentirosas, prepotentes, irredutíveis, mandonas, briguentas, fofoqueiras, violentas, dramáticas, apegadas, superprotetoras, dissimuladas, fumantes, ébrias (alcoólatras em menor e maior grau), viciadas em droga, jogo, sexo, etc...

Sem se preocupar com a resultante da sua postura, a mãe compromete a saúde psíquica de um filho de forma irreparável. Atrevo-me a descrever um perfil muito comum: daquela que cresce acreditando no príncipe encantado (já que explorei esse assunto há pouco tempo).

Com o passar do tempo, a realidade que se apresenta não condiz com a expectativa criada. A frustração é inevitável e a revolta se apresenta como uma indesejável companheira de todas as horas. Soma-se ao corpo que não voltou à antiga forma, à casa que não está como deveria, ao marido que trocou a paixão por pequenas grosserias, ao limite estourado do cartão e a todas as demais limitações tão triviais que ela passa a experimentar. Um contexto em que a irritação profunda brota com toda a sua força e é metralhada com uma carga pesadíssima de cobranças, brigas, reclamações e insatisfações. O que? A criança? Quando muito é usada para atingir o outro.

Outro perfil: mulheres desprendidas, modernas, sensuais e atuais, em regra, permanecem fiéis à agenda, aos compromissos sociais, à disciplina para com o corpo. O filho é um mero detalhe e deve compor o cenário: roupinha linda, cabelinho perfeito, fazendo o que quiser (sem disciplina) para "dar sossego" e não atrapalhar a atuação da mãe.

Cada perfil requer a descrição de um quadro mais caótico do que o outro.

Criança saudável, razoavelmente comportada, inteligente, equilibrada e segura certamente é fruto de uma convivência coerente com as suas necessidades.

Nenhum bebê nasce triste, mimado, hiperativo ou emocionalmente desequilibrado. O que o torna assim é o meio. Criança nenhuma convive bem com gritos, bebida, cigarro, drogas, insatisfações, mentiras, surtos psicóticos, crises, baixarias (ainda que na tv), silêncios mórbidos provocados pelo quadro psicodepressivo dos pais.

Todas essas circunstâncias da vida têm desdobros. O trauma plantado na primeira infância se manifesta de muitas maneiras diferentes. Por isso atribui-se às mães a responsabilidade por tudo o que acontece de bom e ruim na vida dos seus filhos. Elas têm o poder de conduzir da melhor maneira e nem sempre o fazem. A omissão diante de momentos cruciais conduzem as vidas para um aprendizado sustentado em sofrimento. Um quadro em que as doenças e as perdas irreparáveis provam que efetivamente têm função. Somente diante do caos é que certas compreensões são alcançadas. Então, a Mãe Natureza tem se valido desse recurso com muita frequência. Ela tem permitido, como sempre fez, que espíritos predispostos a ensinar cumpram suas funções.

Por mais desequilibrada que seja a mãe, diante da dor do filho ela repensa a vida.

O problema é quando essa realidade chega: leito de hospital, fragilidade extrema e a vida por um fio. Olhar para quem você trouxe ao mundo e perceber que não mais poderá sentir seu cheiro nem seu calor é uma dor indescritível. A manifestação da vida é banalizada por não acreditarmos que ela pode sim acabar. Quando isso se aproxima ou de fato acontece, o vazio que se instala evidencia o tempo desperdiçado, mal aproveitado, os sucessivos erros cometidos sustentados em idiotices, carências e competições. Tudo o que se pede é mais uma oportunidade para abraçar, sentir que respira e está bem. Mas nem sempre é possível...

Todos os seres humanos sofrem perdas irreparáveis. Faz parte do ciclo da vida. Se você ainda não viveu essa experiência, fortaleça-se para enfrentar o que certamente virá. Essa afirmação está sustentada no óbvio e não se trata de nostalgia ou pessimismo. É um fato, é natural e evidente!

Do lado de lá, para onde se vai depois da última expiração, a convivência não será exatamente como era aqui. Tudo o que foi esquecido para permitir que esta experiência acontecesse será relembrado e o sentimento poderá ser um pouco diferente.

Que lá não haja culpas para que o olhar de cumplicidade e gratidão possa existir... e que aqui a lucidez desse momento torne melhor a convivência do agora, porque ela é única e preciosa!
 


2 comentários:

Michelle Formaggio disse...

Oi querida, adorei o post, mas deixo aqui minhas considerações!
Depois que fui mãe também não conseguia entender até um certo tempo atrás o porque de tanto sofrimento com um bebê que ainda nem sequer sabe das coisas? Eu também me pegava perguntando o porque de tantas crianças com doenças terminais em um leito de hospital, ou até mesmo por um fio! É mas fui capaz de entender que primeiramente somos criaturas e não a perfeição de Deus e da Natureza, até concordo com suas palavras quando fala que a criança se tornou doente psicologicamente devido ao meio que se vive, mas o fato de ela nascer com uma doença não significa que a mãe seja tão culpada disso, até porque Deus perdoou nossos pecados e Ele jamais deixaria uma criança nascer com problemas para culpar a mãe, conheço muitas mulheres de bem e que infelizmente tem seus filhos com síndrome de Down, etc! Acredito que se Deus te mandou um filho assim é porque com certeza nós (mães) seríamos o anjo ideal para cuidar dessa criança (já que ela aspira muitos cuidados), que qualquer outra mãe preocupada com seu corpo, sua beleza, suas futilidades jamais conseguiram cuidar de um ser tão divino assim, eu já seria mais radical, não dando o dom de gerar uma vida as mulheres que não tem condições nenhuma de criar um filho, mas ainda bem que não sou Deus kkkkk, eu também já me peguei cheirando minha filha e é um cheiro inesquecível, mas é difícil para nós mãe aceitarmos que um dia poderíamos ficar sem esse cheirinho, até porque eu acredito na Lei da Natureza que todo pai e mãe deve partir primeiro do que seus filhos, pois a dor realmente é irreparável, mas não acredito que seja dessa forma que a Natureza queira nos provar algo, mas acredito que como seres humanos errôneos que somos, algumas coisas saem fora do controle e esses acontecimentos acabam vindo à tona! Acho que esse seja o mistério da Vida enquanto estamos aqui de passagem, claro que tem inúmeras pessoas por aí tentando explicar algumas divindades, mas acho que isso não será capaz, prefiro acreditar nessa forma de vida! bjos

Juliana Costa de Souza disse...

Michelle, muito obrigada por se manifestar e deixar a sua contribuição. Este espaço deve servir também para isso, para as considerações de quem acompanha o blog. As verdades não são incontestáveis e a proposta é de reflexão. Que o teor deste texto possa ter alcançado algum dos seus objetivos. Um grande abraço!

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