As melhores conclusões acontecem
quando menos se espera. Hoje à tarde, numa conversa despretensiosa, percebi
como a distância faz estragos! Sob todos os aspectos.
Falávamos sobre a iniciação sexual precoce. Seria possível, aos 12 anos, uma menina estar pronta para iniciar sua vida sexual? Dificilmente (concluímos). Ainda que o seu corpo esteja formado, a atividade sexual acarreta em consequências sérias o bastante para adiar a decisão de perder a virgindade. O detalhe é que a maioria das meninas desconhece essas consequências. Conduzidas pelo comportamento da maioria, mantêm relações sexuais como mais uma etapa a ser cumprida por uma adolescente que se prese. Quanto mais “descolada”, mais cedo a experiência acontece. Acreditam que se bastam e, equivocadamente seguras, se lançam a um universo próprio das mulheres adultas.
Sei que já fiz essa comparação, mas preciso reforça-la: as frutas podem estar formadas, mas seu tamanho e aspecto não garantem que estejam maduras. Há um tempo necessário para que fiquem no ponto. Assim também acontece com as garotas. O desenvolvimento físico de uma pré-adolescente não representa maturidade para lidar com as consequências que advêm das relações sexuais. E tais consequências NÃO se restringem à gravidez indesejada e às doenças sexualmente transmissíveis. É um completo engano pautar as orientações sexuais exclusivamente por estes aspectos. São importantíssimos, não se pode negar, mas não são os únicos. Se houvesse a compreensão da máxima que envolve um ato sexual, não seria necessário sequer falar em DSTs e gestações indesejadas.
Durante a conversa, senti um pesar muito grande. Pude ver o desalento de alguém que não pôde evitar que uma menina tão nova se entregasse ao namorado, consideravelmente mais velho.
Trata-se de um incômodo de quem já teve acesso à informação e, portanto, a possibilidade de alcançar certa consciência. Acredito realmente que alcançou, que parte do véu da ignorância foi removido, mas DISTANTE da informação, acabou negligenciando com alguém tão próxima, que ama.
Foi nítido: não basta um dia ter ouvido. Ainda que se tenha recebido a informação e que tudo tenha feito muito sentido, se não houver a manutenção ou um relembrar constante, a consciência que parecia permanente vira um espasmo e a pessoa é arrolada pelas regras e comportamentos coletivos, passando a viver dentro dos mesmos moldes, aceitando o que todo mundo aceita e fazendo o que todo mundo faz.
A dúvida permaneceu: “o que será
dela?” (da menina). Achei incrível como as circunstâncias estão se
apresentando. Não se tata mais do conceito conservador da geração “nada pode”
de que “a menina se perdeu e o rapaz terá que reparar o erro”. Trata-se, sim,
da real possibilidade dela perder-se de si mesma. Nada garante que o romance
perdurará, assim como não há qualquer certeza ou garantia de como será o seu
comportamento sexual depois da primeira experiência.
Percebi que a dúvida de alguém que sabe o que uma relação sexual significa é peculiar. Fiquei feliz por sentir que ali se estabeleceu uma reflexão altamente espiritual. Chegamos, inesperadamente, ao que realmente importa: A REAL POSSIBILIDADE DE UMA MENINA PERDER-SE DE SI MESMA.
Nesse momento da conversa, já não importava mais quem negligenciou, se a educação foi falha ou até que ponto a convivência e os estímulos da mídia influenciaram na decisão da garota.
“Poderá perder-se de si mesma...”
Ecoando até agora, me fez escrever.
Perdida de si estará sujeita a sofrimentos, desequilíbrios, revoltas, extremismos, carências, descontroles emocionais. Poderá jamais saber as reais causas das suas dores, como tantas mulheres, ainda hoje, não conseguiram descobrir.
Furtaram-lhes a informação capaz de libertá-las.
Desejo que descubram. Só por isso, hoje, escrevi.
Imagem: Gettyimages
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