Assisti recentemente à palestra “O preço da vergonha” de Mônica Lewinsky. Em 20 minutos ela conseguiu reverter em
mim a imagem inquestionavelmente negativa que, há 17 anos, a mídia criou a seu
respeito.
Num dos momentos da palestra ela
diz que permaneceu sem se pronunciar publicamente pelos últimos 10 anos, mas
decidiu quebrar o silêncio e explicou os porquês desta decisão.
A palestra merece muitos elogios.
É, no mínimo, ótima! Tão boa que me motivou a escrever novamente. Aborda, com
sentimento, assuntos profundamente doloridos – cyberbullying, suicídio,
depressão, humilhação, escracho em escala global – mas acima disso, desperta um
olhar consciente sobre nossas escolhas... Escolhas feitas por amor e escolhas expressas em cliques.
Refleti muito sobre isso. Espero
conseguir transmitir minhas impressões...
Graças aos avanços tecnológicos,
estamos todos mergulhados num oceano de informações. Para onde olhamos, somos
invadidos por imagens, vídeos, mensagens, sons. O que, disso tudo, nos prende a
atenção? Depende das nossas preferências; do que nos causa alguma sensação
relevante.
Facilmente constata-se que há
muita preferência por tragédias, vexames, traições. Quanto maior o escândalo ou
o estrago, mais atenção atrai. O problema é que por trás de cada episódio
impactante há pessoas reais envolvidas. Suas vidas, sentimentos e saúde são
duramente comprometidos por uma exploração irresponsável por parte de quem se
interessa. E, honestamente, quem nunca se interessou por uma “desgraçazinha”
qualquer? Quem nunca acrescentou sua dose de maldade gratuita a alguém que já
está suficientemente exposto?
O fato é que há uma força
monstruosa que gerencia esse interesse. A cultura da humilhação financia
negócios milionários. Quanto mais cliques, mais propagandas são vendidas
naquele espaço virtual, o que aumenta o consumismo e o lucro.
Mas satisfazer uma curiosidade (minha,
sua, nossa) e deleitar-se com as sensações provocadas implica em ignorar o ser
humano ali envolvido. Pode haver muita dor por trás de tudo o que a mídia
mostra, inventa ou aumenta.
Somos “iscas de clique”. Iscas
bobinhas, diga-se de passagem. E isso é tão sério! E é tão difícil não ser uma
“isca de clique”. Mas é perfeitamente possível ter o controle sobre a nossa
opinião, sobe o juízo que fazemos das coisas que nos são apresentadas. E mais:
é necessário que paremos para nos observar diante do clique e das sensações
provocadas depois de ter tido acesso à informação. O que lhe acrescentou? Você
está melhor? Foi enriquecedor ou construtivo?
A ausência de compaixão e
empatia, diz Mônica Lewinsky, tem provocado muitas mortes. As pessoas se matam
depois de uma superexposição. Muitas vezes foram enganadas, filmadas sem
permissão, perseguidas. Uma vez na rede, o planeta inteiro pode exercer seu
livre-arbítrio e condenar ou demonstrar a sua compaixão. Lamentavelmente as
condenações ainda são muito maiores do que as manifestações de compaixão.
Mas porque é assim? Para mim, uma
das causas é o distanciamento. Na exata medida em que a rede nos aproxima,
permitindo que nos comuniquemos ou vejamos em tempo real qualquer pessoa ou pedacinho
do planeta, ela distancia nossos corações.
Temos nas mãos uma ferramenta
fantástica de comunicação. Nossos celulares são capazes de conduzir a
humanidade para um bem nunca antes visto. Somos os únicos responsáveis pelos
cliques que escolhemos, pelas notícias que espalhamos, pelos vídeos que
compartilhamos. As consequências de nossas atitudes virtuais acontecem em
segundos. Que sejamos capazes de espalhar pelo mundo o que há de bom: ideias,
soluções, esclarecimentos, reflexões que promovam uma higiene emocional em
pessoas petrificadas por suas formas-pensamento.
Se você já se importa com a dor
do outro e quer ser a mudança que deseja ver no mundo, atente-se aos seus
cliques e observe-se diante das sensações provocadas. Ao identificar qualquer
incômodo, prefira compartilhar duas (ou mais) boas notícias para cada tragédia
da qual tomou conhecimento. Rapidamente você será um verdadeiro agente na
melhora da qualidade da humanidade que está sobre a face desta Terra.
Ah!... Quanto às escolhas feitas
por amor, Mônica pagou um preço bem alto. Mas o que fica para mim é a força com
que hoje ela se apresenta. Sua experiência, sua sobrevida, a superação do
colapso que arruinou não somente a sua carreira, mas principalmente sua
reputação moral, e a forma como se conduziu em tal superação por quase duas
décadas atribuíram-lhe um poder nunca antes imaginado. Poder este que ela tem
usado para despertar consciência, compaixão, empatia, ou seja, através de Mônica
Lewinsky, a vergonha e a humilhação, em seu mais alto nível, estão servindo à
aproximação dos corações humanos.
Celebremos os despertares!
Imagens: Gettyimages e TED