Existe uma linha bem tênue que separa a infância inocente da pré-adolescência já não mais tão inocente assim. Geramos bebês lindas, fofas e com uma ternura inexplicável. Elas vão crescendo, vão se desenvolvendo, passam a se posicionar e a exigir que a gente também se posicione diante de um monte de situações. Faz parte do processo de reeducação.
Nós, as mães, donas do maior poder sobre aquela menina [ainda tão pequena], na intenção de protegê-la, costumamos classificar as situações e os assuntos em “apropriados”, “não apropriados” ou “proibidos” para a nossa criança.
O tema sexualidade é o primeiro da lista dos proibidos! Para muitas mães, ele arrasta informações perigosas, que podem despertar um interesse precoce. Todos os esforços passam a ser no sentido de mantê-la, pelo maior tempo possível, bem longe desse assunto e desse universo.
Mas muito rapidamente percebemos que ficamos sozinhas com a nossa classificação. Os assuntos “não apropriados” e “proibidos” que seguramos com mãos firmes escaparam por entre os nossos dedos sem que a gente notasse. Enquanto escapavam, nossas meninas se transformavam silenciosamente. Somente então nos damos conta de que estão mais mulheres do que a gente esperava, desejava ou estava preparada para lidar. Só então começamos a sentir que fizeram suas próprias descobertas sozinhas e já sabem muito mais do que deveriam [segundo os nossos critérios]. Aliás, sabem mais do que nós [pelo menos acham que sabem e, em alguns casos, sabem mesmo!].
É comum que a gente sinta muitos desconfortos. Preocupações, medos, dúvidas, até uma certa raiva. Sentimos que a distância já se instalou de um jeito brutal. A filha continua ali, onde sempre esteve, mas o coração dela está inacessível. Somos a mãe, mas não o alcançamos mais. Nem os pensamentos dela podem ser acessados. Tudo se tornou um silêncio estranho e só recebemos respostas incompletas, pois ela quase não fala direito com a gente.
O principal confidente da nossa menina, ainda tão criança, passou a ser o celular. Só que ele é uma janela escancarada para o mundo, absolutamente sem fronteiras. Através dele, ela se comunica com quem quiser e todos os tipos de informações chegam ou são buscadas por ela, principalmente os assuntos proibidos.
Agravante: O interesse pelos assuntos não apropriados e proibidos cresceu muito na medida em que não foram revelados por nós, as mães, há um tempinho atrás.
Que tempo foi esse?
Cometemos um erro básico, um equívoco amador ao acreditar que “ainda é cedo” para certos assuntos [sexuais]. Se houver interesse da criança, se ela perguntar, não é cedo... É O TEMPO DELA!!! A resposta para aquela indagação é que guardará a magia capaz de preservar a inocência ao mesmo tempo em que saciará a curiosidade da criança de um jeito absolutamente natural e respeitoso. Em outras palavras: quando a gente responde do nosso jeito, e esse jeito é honesto e amoroso, a curiosidade acaba porque a criança fica satisfeita. Tratamos a questão com naturalidade e de forma respeitosa e, assim, mantemos a sua inocência.
O tempo das revelações que preservam a pureza da criança está reservado à primeira infância. Até os 7 anos, o que for dito de forma honesta e natural, baseado na observação da natureza, será acolhido pela alma dela e permanecerá guardado em algum lugar quentinho, nutrindo-a da tranquilidade necessária. O contrário disso, ou seja, a não-resposta sustentada em omissão, mentira, postergação ou a resposta violenta, grosseira, destoante da necessidade que se apresentou, além de não saciar com tranquilidade, torna a criança, aos poucos, sedenta de curiosidade. Como ela matará essa sede, a adolescência dirá.
Se até os 8 ou 9 anos ainda é cedo para esclarecer a sua menina, aos 10 anos já é tarde! A informação chegará por outras fontes sem o carinho, a honestidade e a força que você, a mãe, transmitiria ao longo de toda a primeira infância.
Porque o interesse é tão grande?
Pelo simples fato de que a sexualidade é o que existe de maior e mais forte para um ser humano. É assim e não há nada de errado com isso. O despertar para a vida sexual ativa é um momento esplendoroso e merece ser amparado. A natureza reservou à mãe preparar e dar sustentação para as descobertas sexuais das filhas. Acompanhar a evolução que começa com o olhar, o coração palpitante, o frio na espinha. Depois o primeiro beijo, os próximos, tocar e ser tocada. Bem mais tarde, a copulação. Esperamos que tudo isso aconteça de uma forma consciente e num ritmo absolutamente calmo, repleto de sensações, sentidos e emoções. Mas não é o que temos visto por aí. Não tem sido assim...
Não informei. E agora?
Agora você pode "refazer o cálculo da rota". Se o caminho não era aquele, mude! Você não tem compromisso com o erro. Se começou a despertar e olhou para algo que antes não via, poderá trilhar um novo caminho, construindo uma nova realidade. Quando acolhemos em nosso coração uma necessidade real de mudança e desejamos verdadeiramente que ela aconteça, recebemos o auxílio necessário para que assim seja.
Ainda tenho tempo, mas não sei como fazer.
A maioria de nós não sabe como fazer. A maioria de nós não foi informada, acolhida, respeitada, tradada com honestidade. Muitas de nós sofreram abusos físicos, emocionais e psíquicos. Então, não saber como lidar ou agir é absolutamente normal. Mas não é natural. Natural seria estarmos em plenas condições de desempenhar o papel que nos foi reservado. Não nos tornamos mães para perpetuar ciclos de dor, mas para conduzir nossos filhos por caminhos que os levem a um estado elevado de suas próprias consciências. Para isso, a sexualidade humana possui papel fundamental, indispensável e insubstituível.
É chegado o momento de romper os ciclos de dor, um a um, e remover o véu da ignorância que nos impede de enxergar o que há de belo e sagrado na sexualidade que trouxe cada uma de nós até aqui.
Por mais de uma década tenho abordado os assuntos relacionados à sexualidade humana com mães, avós, mulheres e meninas, inclusive a minha. São muitas aflições compartilhadas, dúvidas sobre como falar, medos das consequências, sentimentos de incapacidade, vontade de delegar ou simplesmente se calar, evitando assim tanto desconforto. Mas se, como eu, você já entendeu que não dá para adiar ou se já sente que essa missão é sua e está procurando ajuda para lidar com tudo isso, gostaria que soubesse que me dediquei a um conteúdo muito especial, capaz de nos nutrir de informações valiosas para falar com as nossas meninas, de um jeito honesto e amoroso.
Esse conteúdo está reunido no Programa Sexualidade Consciente, num ambiente preparado para ser acolhedor. Se você quiser conhecê-lo, será uma honra. Clique aqui ou na imagem abaixo. Espero vê-la por lá e poder saber se algo que você viu em meus textos te ajudou. Abraços carinhosos, de mãe pra mãe!
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