Tenho tido muito contato com mulheres que não conseguem engravidar. Muitas conversas que, necessariamente, não resultam no que elas querem ouvir. Decidi escrever para promover uma reflexão mais profunda. De uma conversa, a pessoa extrai o que quer (e pode permanecer sofrendo desnecessariamente por não entender o que foi dito), mas de um texto escrito, a oportunidade de realizar reiteradas leituras acaba criando melhores condições para que ela se veja e compreenda o cenário para o qual a vida a conduziu.
Decidir ser mãe e não conseguir engravidar gera uma dor terrível que povoa muitas almas. Tudo parece certo, mas algo dá errado e “não fecunda”.
Engravidar envolve algumas sérias decisões: a idade, o parceiro, as condições financeiras, a profissão, a liberdade, os projetos pessoais, a paciência com crianças e um sem-número de outros fatores. Tudo isso pesa muito na hora “de pensar a respeito”.
O detalhe é que há mulheres que prorrogam tanto a gestação que, quando optam pelo sim, necessariamente não alcançam o resultado esperado. Outras, no entanto, apesar de não prorrogar e sentir uma inquestionável paixão por crianças, também não alcançam. Não se explica: “A gente faz um plano; Deus faz outro.” Inicia-se, então, uma fase extremamente difícil e delicada.
Em regra, uma vez tendo decidido ter um bebê, o primeiro passo é parar de fazer uso de métodos contraceptivos. Passa-se, então, a observar o período fértil, a intensificar as relações sexuais nesse período, a procurar a posição mais favorável para que a ejaculação seja eficaz, ou seja, o casal (especialmente a mulher) passa a viver em função do seu mais novo objetivo de vida.
A idade começa a preocupar, as informações sobre má formação de fetos começa a “brotar”, os questionamentos se intensificam por parte da família num ciclo de constância que chega a irritar. Muitos casais acabam percebendo que falar foi um erro e adotam o silêncio como postura.
Do insucesso entre quatro paredes a uma visita ao especialista é um pulinho. Rapidamente todos os remédios e métodos de fertilização passam a ser conhecidos. O casal sai do extremo da contracepção para o extremo da fertilização.
A mulher, por sua vez, acumula expectativas e vira refém de imaginações detalhadas de como seria gerar um filho e tê-lo em seus braços. Quanto mais difícil, mais ela luta e se esforça para engravidar. Algumas enlouquecem, angustiam-se, deprimem-se, e, comumente, fazem isso com o parceiro também, ou seja, além de sua saúde psíquica, comprometem a relação.
O que resta a um casal que chega a esse ponto, a não ser extrair de tamanha dificuldade a lição que a Mãe Natureza quer ensinar?
Concepção é uma escolha divina. Por mais que se esforcem para não engravidar, algumas mulheres são inacreditavelmente surpreendidas por uma gestação. Outras, no entanto, por mais que queiram e se esforcem, simplesmente não conseguem gerar o próprio filho.
Então, se você quer muito engravidar, mas não está conseguindo, é hora de encarar-se e descobrir porque a Mãe Natureza não lhe permite conceber. Porque justamente você não consegue? O que lhe falta para que mereça receber um presente das hostes celestes?
Responda, de forma franca e silenciosa:
Tem cuidado da própria saúde? É dela que depende a nova vida!
Preocupa-se com o planeta que seu filho ou filha herdará?
Aprendeu a fazer esforços, concessões, sacrifícios e a ceder?
Já é capaz de abster-se de falar mal dos outros?
Que tipo de relação mantém com a sua mãe?
A que nível chegou seu egoísmo? Atingiu sua alma?
Cuidou bem do cálice que o receberá e o manterá em formação por 9 meses ou deixou todo tipo de homem frequentar e macular o verdadeiro “Santo Graal” que milagrosamente carrega?
Acrescente a esta lista tudo o que já deveria ter alcançado, ter melhorado enquanto ser humano, ter evoluído E NÃO O FEZ POR LIVRE ARBÍTRIO. A vida é feita de escolhas. Você fez as suas e carrega, em seus registros mais íntimos, todas as respostas.
Não cumpre a mim apontar um dedo nojento e inquisitor para a postura que adotou na vida, mas se essa reflexão lhe trouxer respostas e algo for transformado no âmago do seu ser, talvez a Mãe Natureza perceba que já pode entregar o presente tão esperado a essa filha que compreendeu o seu recado e transpôs a barreira da ignorância sobre si mesma.
Negar-lhe a gestação NÃO é uma punição divina. É apenas o último recurso suficientemente capaz de colocá-la diante de si mesma. Então, que seja feita a vontade da Grande Mãe, no processo de reeducação de suas filhas inconscientes por comodismo ou livre arbítrio.
Toda mulher carrega um cálice sagrado. Nele, o milagre da vida se manifesta e envolve todos os encantos do universo, basta que ela esteja ESPIRITUALMENTE pronta.
Historicamente, num tempo em que as mulheres desempenhavam seu papel com maestria, a maternidade era compreendida como uma consequência natural. Biológicos ou não, todos eram tratados como verdadeiros filhos. Essa compreensão impedia que qualquer tipo de crise se instalasse porque todas sabiam que o filho biológico tinha como principal função ensinar àquela mãe o amor incondicional, ao passo que todas as mulheres que já tivessem alcançado o mais nobre dos sentimentos, não mais precisariam passar pela experiência da maternidade.
Um entendimento bastante simples, mas de uma força incomensurável porque impedia o desequilíbrio, o sentimento de fracasso, o pânico de ser cruelmente classificada como “árvore seca”.
Dois grandes exemplos de mães dos filhos do mundo, sem nunca ter dado à luz um filho biológico são Irmã Dulce e Madre Teresa de Calcutá. Mulheres, guerreiras, verdadeiras mães e exímias reeducadoras. Ensinavam com o exemplo, com a conduta e não por palavras.
Imagem: Gettyimages
3 comentários:
Maravilhoso e elucidativo! Parabéns, Juliana!
Gosto muito da abordagem que voce faz em todos seus textos; pois nos remetem à muitas reflexões...
Muito bom! Juliana!
Muito obrigada, Thamires e Marina.
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