Dias atrás vi surgir no meu feed
de notícias do facebook: “Espero que antes de encontrar a pessoa certa você se encontre. Para que não a sobrecarregue com a ingrata responsabilidade de te fazer feliz.”
Uma reflexão que definitivamente
motivou este texto!
Imagino que deva haver muitas
pessoas nesta situação, com esta ingrata responsabilidade. Pensei nelas; no
peso que carregam. Mas pensei também “no peso” em si.
Embora se apresente com muitas
vertentes e perfis distintos, “o peso” traz uma característica comum: carência
emocional excessiva que, de alguma maneira, prende o outro. É justamente no
exercício dessa carência que se manifesta o seu “mi-mi-mi”.
“Mi-mi-mi” é aquela velha postura
infantilizada de fazer bico, magoar, chorar por qualquer coisa, ser a eterna
vítima, “ninguém me ama”, “ninguém me entende”, “nada dá certo pra mim”!
O ser humano nasceu para ser
feliz. Quando chegou ao planeta, todas as condições já estavam criadas e elas
não incluíam a ideia de que a felicidade de um dependeria do outro. As relações
humanas interdependem e NÃO dependem! Há uma grande diferença.
A interdependência pressupõe
reconhecer que você precisa dos outros para tudo e, se não fossem eles, você
sequer existiria. Sem os seus pais, avós, bisavós, você não estaria aqui. Sem o
agricultor, nada de comida e, assim, nada de barriga cheia. Sem o gari, nada de
lixo recolhido. Sem todo mundo, nada de nada para a sua vida confortável! A
equação é simples e lógica!
Já a dependência vai bem “na
contramão” dessa equação! Quem depende é um porre! Se for um romance, no começo
é até legal, pois parece prova de amor. Mas com o passar do tempo fica
detestável. Esse passar do tempo às vezes é veloz e muito rapidamente a relação
se apresenta como um fardo bem pesado.
Ficar forçando a barra,
implorando atenção, viver em função de chantagem emocional, pressão
psicológica, choros compulsivos, quadros de desestabilidade emocional, eterno
muro das lamentações, chatice aguda em momentos delicados, entre tantas outras
posturas lamentáveis, se não afastar, poderá sim levar o outro à dominação. A
pessoa acaba incorporando a ideia de que é mesmo a responsável por aquela
felicidade e, não querendo um mal maior, cede a tudo, sempre, e acaba dominado.
Para quem domina, a felicidade
nunca será real. Haverá sempre a necessidade de se valer do “chororô”, do
singelo olhar do Gato de Botas compondo aquela cara de coitado que ninguém tem
coragem de contrariar.
Impossível ser verdadeiramente
feliz assim. A sensação é de ter conseguido o que queria e isso satisfaz
momentaneamente, mas não faz feliz.
Para quem é dominado, a
satisfação pode até visitar seu ego no sentido de “sou insubstituível”, mas o
desgaste pela sensação de estar amarrado e de ter sempre que ceder, acabará
deteriorando sua capacidade de viver de forma prazerosa. Válvulas de escape
passam a ser recursos bem aceitos nestas circunstâncias: embriaguez constante e
mentiras para viver aventuras “calientes” são alguns exemplos.
Acreditar que alguém o fará feliz
é até aceitável, desde que esse acreditar esteja acompanhado da necessária dose
de realismo de que, caso não funcione assim, a vida continua sem grandes
traumas, afinal, ninguém é de ninguém e o livre-arbítrio é uma realidade.
Também é recomendável a plena ciência de que serão os esforços conjuntos que
garantirão uma convivência saudável. Mas, acima de tudo, é muito bom que se
saiba que nenhuma felicidade é permanente, assim como nenhum sofrimento, e
atribuir ao outro a função de te fazer feliz é mesmo sobrecarrega-lo com uma
responsabilidade das mais ingratas.
A felicidade é um prêmio! Uma vez
merecedor, será feliz independentemente de qualquer companhia. Se você for
capaz de resolver os seus próprios problemas, não será um problema para
ninguém. Aí está o merecimento!
Alcançar satisfação pessoal por
seus próprios esforços garantem que você seja um ser completo. Quando encontrar
outro ser completo, a felicidade se manifestará de forma absolutamente real e
natural.
Os problemas sempre existirão.
Resta-nos aprender a ser parte da solução e, por livre e espontânea vontade e
consciência, assistir o problema alheio para que todos vivam a interdependência
na sua plenitude, sem ingratas responsabilidades.
Pare de “mi-mi-mi”! Não se
esforce para ser odiado, detestado, indesejado. Se esforce para ser útil! Nessa
utilidade a felicidade será sua grata companhia! ;)
Imagem: Gettyimages