A legalização da maconha é um
assunto polêmico. Em regra, quem apoia canabisa. Ainda que não canabise, o
coletivo rotula como maconheiro e ponto. Algumas pessoas manifestam verdadeiro
pânico acerca das suas consequências. Alegam que muitos jovens poderão se
entregar ao vício pelo acesso facilitado à droga.
As justificativas políticas que
levam os países a adotarem a medida são várias. A principal motivação é, sem
dúvida, econômica. O alto custo dos tratamentos e seus ínfimos casos de
sucesso, bem como o combate à criminalização (policiamento, sistema judiciário,
carcerário,...) são exemplos de gastos exorbitantes do dinheiro público que não
surtem os resultados minimamente esperados. Mesmo exorbitantes, tais gastos não
se comparam à arrecadação tributária que advém da legalização da maconha. Há
países em que a arrecadação de impostos será quatro vezes maior do que os
gastos com tratamento e combate ao uso. Isto é incontestavelmente decisivo para
a adesão dos governos!
Tanto o apoio dos usuários quanto
o pânico dos que combatem a legalização apenas servem de base para as
justificativas políticas. O fato é que a adesão dos países deverá crescer
rapidamente, seguindo o modelo dos que inovaram.
Mas “e agora”? Cannabis
legalizada, jovens tendo livre acesso, a indústria estimulando o consumo, os
cofres públicos lucrando fortemente com o vício,... é o caos? Depende. Talvez
seja o divisor de águas.
É fato que a maconha é a porta
para o uso de outras drogas. Mas o álcool também é e está legalizado há
décadas. O cigarro idem. A propósito, li que “a partir de meados do século XX, o uso do cigarro espalhou-se por todo o
mundo de maneira enérgica. Essa expansão deu-se, em grande parte, graças ao
desenvolvimento da publicidade e marketing”, ou seja, levou 60 anos para a
sociedade viver o processo de recepcionar o charmoso cigarro, aderir ao vício,
adoecer, reconhecer que mata dolorosamente e aceitar as limitações impostas a
quem ainda fuma, como as áreas restritas e as imagens chocantes nas embalagens.
Um dos efeitos mais conhecidos do
cigarro é acalmar o fumante. E a maconha? Canabisar provoca, entre outras, a
sensação de bem-estar. O sujeito fica bem, esquece os problemas, experimenta
momentos de profunda satisfação pessoal. Se o efeito passa e os problemas
voltam a perturbar, ele canabisa de novo e se resolve, adiando por mais um
tempo. Apresenta-se, portanto, um ser inativo!
Como em tudo, há exceções. Deve
haver os que conseguem conduzir suas vidas de forma aparentemente normal
fumando uma cannabis aqui e outra ali, mas muitos usuários estão se tornando
inativos. Prova disso são aqueles indivíduos pouco produtivos, sem iniciativa
(ou que só têm iniciativa, mas pouquíssima “acabativa”), que as empresas
dispensam mais facilmente, que nada na vida dá muito certo, que giram em falso
quase que permanentemente. São inativos. Apenas isso! Sempre foram assim?
Necessariamente não, mas se tornaram ou se tornarão.
Muito diferente do cara
batalhador, que se preocupa em ser útil, tem sonhos, objetivos, almeja
independência financeira, preserva a saúde, valoriza a boa aparência, os
cuidados com higiene pessoal, demonstra ânimo para viver e garra para resolver
os próprios problemas.
O inativo não possui tais
características, não entende porque não as possui, tampouco sabe como
adquiri-las. Na verdade, tudo isso sequer importa. Diante de qualquer cobrança
ou pensamento que o incomode ou traga desconforto, a cannabis se apresenta como
a solução.
Resta, portanto, a blindagem das
crianças. Elas terão chances se forem bem informadas e formadas dentro de um
contexto de consciência e humanidade que as conduza para a natural
espiritualização, independentemente da orientação religiosa. Saber das causas
espirituais que a todos envolvem e fortalecê-las a partir desta compreensão.
Os pré-adolescentes já podem
fazer suas escolhas baseadas no que lhes é apresentado. Têm livre-arbítrio e
informação, mas raros são os que receberam formação. A estes está reservada a
difícil decisão entre se divertir ou se tornar responsável.
Nasceram para ser responsáveis e
humanos, mas dependem do que aprenderam até aqui.
A diversão pelo uso da maconha é
uma escolha sedutora que poderá encurtar vidas consideravelmente, basta
observar o estrago feito pelo ciclo do cigarro. Por mais que o ciclo da maconha
tenha um tempo ainda desconhecido, é certo que a cannabis entra para o modelo
industrializado do cigarro, à mercê do mesmo capitalismo tabagista.
Encarar a legalização da maconha como um divisor de águas é
ser espectador de um cenário inovador, através do qual os usuários passarão a
ser conhecidos. Sairão dos becos e das bocas para se emprestarem ao aprendizado
coletivo. Que aprendizado será este apenas saberemos quando o ciclo da cannabis
se cumprir.
O planeta já experimentou pragas, inundações, tornados,
tsunamis, vulcões em erupção, geadas, incontáveis fenômenos que exterminaram
parte da população mundial. Guerras também fizeram e ainda fazem esse papel.
Mas em todos esses casos, inocentes e desavisados morreram sem opção de
escolha.
Créditos Imagem: Gettyimages
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