terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

RELACIONAMENTOS EM RUÍNA


Tenho sido convidada a saber de muitos casos de relacionamentos que não vão nada bem. Por onde quer que se olhe, lá está mais um casal em declínio.

As causas são inúmeras: o egoísmo, a frustração pelas expectativas não correspondidas, o desinteresse sexual, os romances paralelos, os vícios, os interesses de cada um que não encontram um bom termo. A lista é tristemente longa!

Briga e infelicidade. Discórdia e amargura. Irritação e violência. Agressão e raiva.

Há os que explodem. Há os que silenciam e acumulam. Mas todo mundo adoece, inclusive e principalmente os filhos.

Até os relacionamentos que aparentemente vão bem estão indo mal! Basta uma maior aproximação que facilmente se constata uma grande insatisfação. Às vezes nem é com o outro, é consigo mesmo!

Sempre há quem diga que essa visão é pessimista e recalcada. Preferem rotular quem escreve a enxergar a própria realidade. É compreensível! Dói demais se ver. É muito mais fácil negar e construir um cenário à base de tranquilizantes, do que enfrentar as consequências das próprias escolhas.

Estatísticas do Registro Civil da minha cidade: para a média de 20 a 25 casamentos a cada final de semana, 5 divórcios por dia! Casam-se 25, separam-se outros 25 casais em uma semana! Se casamento ainda está na moda, as separações estão competindo fortemente!

Mas porque os relacionamentos chegaram a esse ponto? O que fizemos das nossas relações afetivas?

A análise fugiria dos seus reais propósitos se abordasse todas as possibilidades, mas é possível afirmar que há um lapso ocorrendo com a maioria dos casais: o materialismo e a diversão como únicos objetivos.

Ao afirmar isso, despertei um profundo inconformismo: “Mas o que há de errado em um casal querer estabilidade financeira, conforto e momentos agradáveis de diversão e lazer? Pensei que era quase uma obrigação batalhar sua casa, seu carro, suas viagens, se esforçar para ter o melhor e garantir um bom futuro para os filhos!”

Realmente não há absolutamente NADA de errado com essa postura. Ela é excelente! Inclusive, todos os casais merecem alcançar tudo isso e muito mais! Só que não é só isso o que importa. Viver exclusivamente em função desse objetivo é uma atitude egoísta. Ainda que se busque o bem-estar da família, é egoísta.

Não fomos ensinados a olhar mais adiante. Na verdade, nem do lado. Perceber a necessidade do outro já é uma raridade nesse mundo corrido e competitivo. Dedicar-se a ajudar quem precisa é absolutamente utópico e pode muito bem ficar para depois.

O conceito de caridade que nos embutiram nos remete a um cenário de dó, de “gente feia” (porque “gente bonita” está se divertindo e desfilando o seu materialismo agudo), de coisas descartadas, de pessoas que poderão ficar nos incomodando, exigindo mais do que estamos dispostos a dar. Para não ter chateações, melhor deixar a caridade para quem gosta de fazer. As igrejas são ótimas nisso! “Deixa que o velhos fazem.”

A propósito: porque será que caridade é coisa de velho? Talvez porque tenham descoberto que “fora da caridade não há salvação”. Ainda que pareça um papo bem careta esse de “salvação”, seria muito bom olhar os velhinhos como pessoas que, com as limitações do seu tempo, viveram plenamente o livre-arbítrio e fizeram muita merda! Cada um com a sua cara de “bom velhinho” e “boa velhinha” pode ter sido um grandessíssimo filho da puta, manifestando egoísmo, raiva, ódio, ciúmes, inveja, como todo mortal que se prese. E depois de uma vida inteira de consequências, percebe que o fim realmente se aproxima e que olhar adiante se tornou a maior das utopias. O que lhe resta é olhar para trás e, por consciência, remorsos ou desespero, fazer algo pelo outro.

Mas voltando para os casais... Se não são, se esforçam MUITO para aparentar serem novos, lindos, inteligentes, com um ótimo humor e muito bom gosto. Na verdade, têm em comum a língua, que é afiadíssima. Diante deles, cogitar a possibilidade de um trabalho voluntário é ser tomada como ridícula. Mas surpreendentemente pode salvar uma relação.

Há pessoas de uma competência incrível que, com a maior facilidade, poderia resolver um problemão para uma entidade beneficente. Imagine a carência de profissionais especializados que essas entidades enfrentam?! O prédio e toda a parte de engenharia, arquitetura, decoração, hidráulica, elétrica. Soluções que economizam energia, que tornam o ambiente mais claro, arejado, fresco. A parte de informática, a comunicação virtual, o treinamento de pessoal, o suporte jurídico, a orientação nutricional das crianças e idosos, um relaxamento para os profissionais e pessoas assistidas, um teatro, corte de cabelo, cuidados odontológicos, pequenos reparos,... Ahhhhhhhhhh! Não é um compromisso eterno! É um começo, meio e fim bem feito que vale por uma vida! Preocupar-se com o bem-estar do outro e se beneficiar fazendo um trabalho bem feito. Nada mais!

Depois disso, a vida passa a ter outro sentido. A família passa a ter valor. O consumismo perde a função. Isso sim é batalhar um futuro melhor para os filhos! Deixar de consumir inutilmente é preservar o planeta que eles herdarão. Ajudar o outro se ajudando primeiro é ser conduta. Seu filho vai ser um babaca se só ficar atrás do que “tá na moda”. Desde as festas de aniversário, até a mochila, o tênis, os brinquedos,... Onde já se viu um personagem infantil estar ultrapassado? Eles são eternos! Perde-se a essência do lúdico e forma-se um “materialistazinho de meia pataca”. Depois reza para o filho ser feliz! Com que moral? Cadê os créditos para ter esse pedido atendido? Só porque você acha que merece?

Esse tipo de achismo é muito perigoso. A Mãe Natureza pode lhe reservar uma surpresa no percurso para despertar em você um lado que dorme profundamente.

Alguns casais já experimentam de plano a surpresa: trazem ao mundo filhos que se doam ao aprendizado dos pais. Emprestam-se a uma limitação física para resgatar a consciência espiritual adormecida daqueles que o amam. É lindo, mas muito dolorido!

Escrever tudo isso, ainda que seja visto com o tom da crítica, tem um propósito maior. Não me importarei com as contrariedades se alguém se sentir incomodado ao ponto de querer mudar para melhor.

Desejo, assim, que se incomodem profundamente para que sejam mais felizes e façam desse mundo um espaço melhor!

Espero, honestamente, estar fazendo um pouco da minha parte!

Imagem: Gettyimages 

domingo, 26 de janeiro de 2014

DOMINAÇÃO POR MI-MI-MI


Dias atrás vi surgir no meu feed de notícias do facebook: “Espero que antes de encontrar a pessoa certa você se encontre. Para que não a sobrecarregue com a ingrata responsabilidade de te fazer feliz.”

Uma reflexão que definitivamente motivou este texto!

Imagino que deva haver muitas pessoas nesta situação, com esta ingrata responsabilidade. Pensei nelas; no peso que carregam. Mas pensei também “no peso” em si.

Embora se apresente com muitas vertentes e perfis distintos, “o peso” traz uma característica comum: carência emocional excessiva que, de alguma maneira, prende o outro. É justamente no exercício dessa carência que se manifesta o seu “mi-mi-mi”.

“Mi-mi-mi” é aquela velha postura infantilizada de fazer bico, magoar, chorar por qualquer coisa, ser a eterna vítima, “ninguém me ama”, “ninguém me entende”, “nada dá certo pra mim”!

O ser humano nasceu para ser feliz. Quando chegou ao planeta, todas as condições já estavam criadas e elas não incluíam a ideia de que a felicidade de um dependeria do outro. As relações humanas interdependem e NÃO dependem! Há uma grande diferença.

A interdependência pressupõe reconhecer que você precisa dos outros para tudo e, se não fossem eles, você sequer existiria. Sem os seus pais, avós, bisavós, você não estaria aqui. Sem o agricultor, nada de comida e, assim, nada de barriga cheia. Sem o gari, nada de lixo recolhido. Sem todo mundo, nada de nada para a sua vida confortável! A equação é simples e lógica!

Já a dependência vai bem “na contramão” dessa equação! Quem depende é um porre! Se for um romance, no começo é até legal, pois parece prova de amor. Mas com o passar do tempo fica detestável. Esse passar do tempo às vezes é veloz e muito rapidamente a relação se apresenta como um fardo bem pesado.

Ficar forçando a barra, implorando atenção, viver em função de chantagem emocional, pressão psicológica, choros compulsivos, quadros de desestabilidade emocional, eterno muro das lamentações, chatice aguda em momentos delicados, entre tantas outras posturas lamentáveis, se não afastar, poderá sim levar o outro à dominação. A pessoa acaba incorporando a ideia de que é mesmo a responsável por aquela felicidade e, não querendo um mal maior, cede a tudo, sempre, e acaba dominado.

O preço é alto demais para todo mundo!

Para quem domina, a felicidade nunca será real. Haverá sempre a necessidade de se valer do “chororô”, do singelo olhar do Gato de Botas compondo aquela cara de coitado que ninguém tem coragem de contrariar.

Impossível ser verdadeiramente feliz assim. A sensação é de ter conseguido o que queria e isso satisfaz momentaneamente, mas não faz feliz.

Para quem é dominado, a satisfação pode até visitar seu ego no sentido de “sou insubstituível”, mas o desgaste pela sensação de estar amarrado e de ter sempre que ceder, acabará deteriorando sua capacidade de viver de forma prazerosa. Válvulas de escape passam a ser recursos bem aceitos nestas circunstâncias: embriaguez constante e mentiras para viver aventuras “calientes” são alguns exemplos.

Acreditar que alguém o fará feliz é até aceitável, desde que esse acreditar esteja acompanhado da necessária dose de realismo de que, caso não funcione assim, a vida continua sem grandes traumas, afinal, ninguém é de ninguém e o livre-arbítrio é uma realidade. Também é recomendável a plena ciência de que serão os esforços conjuntos que garantirão uma convivência saudável. Mas, acima de tudo, é muito bom que se saiba que nenhuma felicidade é permanente, assim como nenhum sofrimento, e atribuir ao outro a função de te fazer feliz é mesmo sobrecarrega-lo com uma responsabilidade das mais ingratas.

A felicidade é um prêmio! Uma vez merecedor, será feliz independentemente de qualquer companhia. Se você for capaz de resolver os seus próprios problemas, não será um problema para ninguém. Aí está o merecimento!

Alcançar satisfação pessoal por seus próprios esforços garantem que você seja um ser completo. Quando encontrar outro ser completo, a felicidade se manifestará de forma absolutamente real e natural.

Os problemas sempre existirão. Resta-nos aprender a ser parte da solução e, por livre e espontânea vontade e consciência, assistir o problema alheio para que todos vivam a interdependência na sua plenitude, sem ingratas responsabilidades.

Pare de “mi-mi-mi”! Não se esforce para ser odiado, detestado, indesejado. Se esforce para ser útil! Nessa utilidade a felicidade será sua grata companhia! ;)

Imagem: Gettyimages

domingo, 19 de janeiro de 2014

CANNABIS LEGALIZADA. E AGORA?



A legalização da maconha é um assunto polêmico. Em regra, quem apoia canabisa. Ainda que não canabise, o coletivo rotula como maconheiro e ponto. Algumas pessoas manifestam verdadeiro pânico acerca das suas consequências. Alegam que muitos jovens poderão se entregar ao vício pelo acesso facilitado à droga.

As justificativas políticas que levam os países a adotarem a medida são várias. A principal motivação é, sem dúvida, econômica. O alto custo dos tratamentos e seus ínfimos casos de sucesso, bem como o combate à criminalização (policiamento, sistema judiciário, carcerário,...) são exemplos de gastos exorbitantes do dinheiro público que não surtem os resultados minimamente esperados. Mesmo exorbitantes, tais gastos não se comparam à arrecadação tributária que advém da legalização da maconha. Há países em que a arrecadação de impostos será quatro vezes maior do que os gastos com tratamento e combate ao uso. Isto é incontestavelmente decisivo para a adesão dos governos!

Tanto o apoio dos usuários quanto o pânico dos que combatem a legalização apenas servem de base para as justificativas políticas. O fato é que a adesão dos países deverá crescer rapidamente, seguindo o modelo dos que inovaram.

Mas “e agora”? Cannabis legalizada, jovens tendo livre acesso, a indústria estimulando o consumo, os cofres públicos lucrando fortemente com o vício,... é o caos? Depende. Talvez seja o divisor de águas.

É fato que a maconha é a porta para o uso de outras drogas. Mas o álcool também é e está legalizado há décadas. O cigarro idem. A propósito, li que “a partir de meados do século XX, o uso do cigarro espalhou-se por todo o mundo de maneira enérgica. Essa expansão deu-se, em grande parte, graças ao desenvolvimento da publicidade e marketing”, ou seja, levou 60 anos para a sociedade viver o processo de recepcionar o charmoso cigarro, aderir ao vício, adoecer, reconhecer que mata dolorosamente e aceitar as limitações impostas a quem ainda fuma, como as áreas restritas e as imagens chocantes nas embalagens.

Um dos efeitos mais conhecidos do cigarro é acalmar o fumante. E a maconha? Canabisar provoca, entre outras, a sensação de bem-estar. O sujeito fica bem, esquece os problemas, experimenta momentos de profunda satisfação pessoal. Se o efeito passa e os problemas voltam a perturbar, ele canabisa de novo e se resolve, adiando por mais um tempo. Apresenta-se, portanto, um ser inativo!

Como em tudo, há exceções. Deve haver os que conseguem conduzir suas vidas de forma aparentemente normal fumando uma cannabis aqui e outra ali, mas muitos usuários estão se tornando inativos. Prova disso são aqueles indivíduos pouco produtivos, sem iniciativa (ou que só têm iniciativa, mas pouquíssima “acabativa”), que as empresas dispensam mais facilmente, que nada na vida dá muito certo, que giram em falso quase que permanentemente. São inativos. Apenas isso! Sempre foram assim? Necessariamente não, mas se tornaram ou se tornarão.

Muito diferente do cara batalhador, que se preocupa em ser útil, tem sonhos, objetivos, almeja independência financeira, preserva a saúde, valoriza a boa aparência, os cuidados com higiene pessoal, demonstra ânimo para viver e garra para resolver os próprios problemas.

O inativo não possui tais características, não entende porque não as possui, tampouco sabe como adquiri-las. Na verdade, tudo isso sequer importa. Diante de qualquer cobrança ou pensamento que o incomode ou traga desconforto, a cannabis se apresenta como a solução.

Resta, portanto, a blindagem das crianças. Elas terão chances se forem bem informadas e formadas dentro de um contexto de consciência e humanidade que as conduza para a natural espiritualização, independentemente da orientação religiosa. Saber das causas espirituais que a todos envolvem e fortalecê-las a partir desta compreensão.

Os pré-adolescentes já podem fazer suas escolhas baseadas no que lhes é apresentado. Têm livre-arbítrio e informação, mas raros são os que receberam formação. A estes está reservada a difícil decisão entre se divertir ou se tornar responsável.

Nasceram para ser responsáveis e humanos, mas dependem do que aprenderam até aqui.

A diversão pelo uso da maconha é uma escolha sedutora que poderá encurtar vidas consideravelmente, basta observar o estrago feito pelo ciclo do cigarro. Por mais que o ciclo da maconha tenha um tempo ainda desconhecido, é certo que a cannabis entra para o modelo industrializado do cigarro, à mercê do mesmo capitalismo tabagista.

Encarar a legalização da maconha como um divisor de águas é ser espectador de um cenário inovador, através do qual os usuários passarão a ser conhecidos. Sairão dos becos e das bocas para se emprestarem ao aprendizado coletivo. Que aprendizado será este apenas saberemos quando o ciclo da cannabis se cumprir.

O planeta já experimentou pragas, inundações, tornados, tsunamis, vulcões em erupção, geadas, incontáveis fenômenos que exterminaram parte da população mundial. Guerras também fizeram e ainda fazem esse papel. Mas em todos esses casos, inocentes e desavisados morreram sem opção de escolha.

Vivemos a era em que a morte precoce será uma escolha. É a seleção natural sustentada no livre-arbítrio.

Créditos Imagem: Gettyimages

 
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