Tenho sido convidada a saber de muitos
casos de relacionamentos que não vão nada bem. Por onde quer que se olhe, lá
está mais um casal em declínio.
As causas são inúmeras: o egoísmo, a
frustração pelas expectativas não correspondidas, o desinteresse sexual, os
romances paralelos, os vícios, os interesses de cada um que não encontram um
bom termo. A lista é tristemente longa!
Briga e infelicidade. Discórdia e
amargura. Irritação e violência. Agressão e raiva.
Há os que explodem. Há os que silenciam
e acumulam. Mas todo mundo adoece, inclusive e principalmente os filhos.
Até os relacionamentos que aparentemente
vão bem estão indo mal! Basta uma maior aproximação que facilmente se constata
uma grande insatisfação. Às vezes nem é com o outro, é consigo mesmo!
Sempre há quem diga que essa visão é
pessimista e recalcada. Preferem rotular quem escreve a enxergar a própria
realidade. É compreensível! Dói demais se ver. É muito mais fácil negar e
construir um cenário à base de tranquilizantes, do que enfrentar as
consequências das próprias escolhas.
Estatísticas do Registro Civil da minha
cidade: para a média de 20 a 25 casamentos a cada final de semana, 5 divórcios
por dia! Casam-se 25, separam-se outros 25 casais em uma semana! Se casamento
ainda está na moda, as separações estão competindo fortemente!
Mas porque os relacionamentos chegaram a
esse ponto? O que fizemos das nossas relações afetivas?
A análise fugiria dos seus reais
propósitos se abordasse todas as possibilidades, mas é possível afirmar que há
um lapso ocorrendo com a maioria dos casais: o materialismo e a diversão como
únicos objetivos.
Ao afirmar isso, despertei um profundo
inconformismo: “Mas o que há de errado em um casal querer estabilidade
financeira, conforto e momentos agradáveis de diversão e lazer? Pensei que era
quase uma obrigação batalhar sua casa, seu carro, suas viagens, se esforçar
para ter o melhor e garantir um bom futuro para os filhos!”
Realmente não há absolutamente NADA de
errado com essa postura. Ela é excelente! Inclusive, todos os casais merecem
alcançar tudo isso e muito mais! Só que não é só isso o que importa. Viver
exclusivamente em função desse objetivo é uma atitude egoísta. Ainda que se
busque o bem-estar da família, é egoísta.
Não fomos ensinados a olhar mais
adiante. Na verdade, nem do lado. Perceber a necessidade do outro já é uma
raridade nesse mundo corrido e competitivo. Dedicar-se a ajudar quem precisa é
absolutamente utópico e pode muito bem ficar para depois.
O conceito de caridade que nos embutiram
nos remete a um cenário de dó, de “gente feia” (porque “gente bonita” está se
divertindo e desfilando o seu materialismo agudo), de coisas descartadas, de
pessoas que poderão ficar nos incomodando, exigindo mais do que estamos
dispostos a dar. Para não ter chateações, melhor deixar a caridade para quem
gosta de fazer. As igrejas são ótimas nisso! “Deixa que o velhos fazem.”
A propósito: porque será que caridade é
coisa de velho? Talvez porque tenham descoberto que “fora da caridade não há salvação”.
Ainda que pareça um papo bem careta esse de “salvação”, seria muito bom olhar
os velhinhos como pessoas que, com as limitações do seu tempo, viveram
plenamente o livre-arbítrio e fizeram muita merda! Cada um com a sua cara de “bom
velhinho” e “boa velhinha” pode ter sido um grandessíssimo filho da puta,
manifestando egoísmo, raiva, ódio, ciúmes, inveja, como todo mortal que se
prese. E depois de uma vida inteira de consequências, percebe que o fim
realmente se aproxima e que olhar adiante se tornou a maior das utopias. O que
lhe resta é olhar para trás e, por consciência, remorsos ou desespero, fazer
algo pelo outro.
Mas voltando para os casais... Se não
são, se esforçam MUITO para aparentar serem novos, lindos, inteligentes, com um
ótimo humor e muito bom gosto. Na verdade, têm em comum a língua, que é
afiadíssima. Diante deles, cogitar a possibilidade de um trabalho voluntário é
ser tomada como ridícula. Mas surpreendentemente pode salvar uma relação.
Há pessoas de uma competência incrível
que, com a maior facilidade, poderia resolver um problemão para uma entidade
beneficente. Imagine a carência de profissionais especializados que essas
entidades enfrentam?! O prédio e toda a parte de engenharia, arquitetura,
decoração, hidráulica, elétrica. Soluções que economizam energia, que tornam o
ambiente mais claro, arejado, fresco. A parte de informática, a comunicação
virtual, o treinamento de pessoal, o suporte jurídico, a orientação nutricional
das crianças e idosos, um relaxamento para os profissionais e pessoas
assistidas, um teatro, corte de cabelo, cuidados odontológicos, pequenos
reparos,... Ahhhhhhhhhh! Não é um compromisso eterno! É um começo, meio e fim
bem feito que vale por uma vida! Preocupar-se com o bem-estar do outro e se
beneficiar fazendo um trabalho bem feito. Nada mais!
Depois disso, a vida passa a ter outro
sentido. A família passa a ter valor. O consumismo perde a função. Isso sim é
batalhar um futuro melhor para os filhos! Deixar de consumir inutilmente é
preservar o planeta que eles herdarão. Ajudar o outro se ajudando primeiro é
ser conduta. Seu filho vai ser um babaca se só ficar atrás do que “tá na moda”.
Desde as festas de aniversário, até a mochila, o tênis, os brinquedos,... Onde
já se viu um personagem infantil estar ultrapassado? Eles são eternos! Perde-se
a essência do lúdico e forma-se um “materialistazinho de meia pataca”. Depois
reza para o filho ser feliz! Com que moral? Cadê os créditos para ter esse
pedido atendido? Só porque você acha que merece?
Esse tipo de achismo é muito perigoso. A
Mãe Natureza pode lhe reservar uma surpresa no percurso para despertar em você
um lado que dorme profundamente.
Alguns casais já experimentam de plano a
surpresa: trazem ao mundo filhos que se doam ao aprendizado dos pais.
Emprestam-se a uma limitação física para resgatar a consciência espiritual
adormecida daqueles que o amam. É lindo, mas muito dolorido!
Escrever tudo isso, ainda que seja visto
com o tom da crítica, tem um propósito maior. Não me importarei com as
contrariedades se alguém se sentir incomodado ao ponto de querer mudar para
melhor.
Desejo, assim, que se incomodem
profundamente para que sejam mais felizes e façam desse mundo um espaço melhor!
Espero, honestamente, estar fazendo um
pouco da minha parte!
Imagem: Gettyimages
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