- Acho que minha filha não é mais virgem.
- Vocês conversaram sobre essa decisão, de iniciar a vida sexual?- Não. Quer dizer, conversamos.
- Como foi a conversa?
- (...)
- Tensa? Apática? Incompleta? Constrangedora? Desconfortável?
- (...)
- Quer conversar primeiro sobre os seus problemas de ordem sexual? Sobre os seus bloqueios e traumas?
- (...) (...) (...)
Ufa! Ainda bem que isso não é um diálogo; é apenas um texto que você lê se quiser. Não precisa se confessar e muito menos responder a essa incômoda pergunta. Mas já que estamos aqui e o assunto começa a tomar forma, que tal se permitir a uma maior compreensão sobre a sexualidade e tudo o que a envolve?
Embora eu não possa afirmar que você arraste desequilíbrios sexuais, posso, sim, comunicar com segurança que 99% da população mundial se apresenta sexualmente desequilibrada. Tentar analisar cada perfil não é sensato, além de ser irrelevante. Mas conforta saber que, caso tenha algum desequilíbrio, você não é a única com problemas desse tipo?
Como, então, falar com a sua filha sobre um assunto que, para você, é motivo de pânico ou vergonha? “Ai, nem uma coisa nem outra! Só não gosto muito de falar sobre isso!” Tudo bem! Há que se respeitar essa sua postura! Mas você sabia que se não falar abertamente sobre sexo com ela a informação chegará de forma absolutamente distorcida? Tome por base a forma como você entrou em contato com esse universo do sexo. Honestamente, fizeram um bom trabalho (com o seu cérebro e sentimentos) ou te jogaram numa vala, num abismo de insegurança e pecados?
A resposta pessoal a uma educação sexual deficiente é o extremismo: “nada pode” ou “tudo pode” (NEGAÇÃO X DEPRAVAÇÃO). Uma mulher torna-se sexualmente apática ou enlouquecida graças à falta ou à péssima qualidade de informações que lhe são prestadas.
Se hoje a sua vida sexual é um caos (quer porque nada te sacie, quer porque a nada você se permita), saiba: a solução para o seu problema está na informação. Mas qual? Esta aqui, aliás, todas essas que são discutidas por aqui, neste singelo espaço virtual. “Não é muita pretensão da sua parte achar que tem a resposta para essas coisas tão profundas e delicadas?” Seria pretensão se não fosse função e se eu não estivesse lutando contra um grande egoísmo. Como posso receber ajuda para chegar a essas conclusões e não compartilhar? Preciso, no mínimo, criar condições para que, a mais alguém, tudo isso possa fazer sentido. Faz para você? Ainda que não responda, já é possível sentir o que causa alívio e o que perturba. Então, na medida do possível, vamos explorando esse universo conturbado. Vai que num dado momento seja possível desvencilhar-se de todas as correntes e viver uma experiência sexual plena? Não seria fantástico? Pois é... Então, continuarei escrevendo e você, por favor, se esforce para continuar lendo, ok? Apenas isso.
E não espere encontrar um roteiro ou uma receita pronta para repassar para sua filha. A conversa entre vocês precisa ser regada a sentimentos: os seus e, principalmente, os dela. Somente “sentindo” se alcança a alma que, uma vez tocada, permanece com o registro eterno.
“Mas COMO falar com a minha filha?” Fale a verdade. Se suas experiências foram fantásticas ou terríveis, esteja disposta a ser honesta com os seus sentimentos. Mas EM HIPÓTESE ALGUMA deposite nessa conversa uma carga desnecessária de pecado, tampouco passe a falsa ideia da perfeição (namoro perfeito, homem lindo, rico e perfeito, jantares, presentes caros, paixão estonteante) e muito menos a faça acreditar nos múltiplos orgasmos alcançados a partir da busca desesperada pelo prazer.
Partir para a linha do pecado reforçará as impressões trazidas no DNA de toda mulher que teve uma ancestral comum queimada e torturada pela inquisição.
A propósito, qual o seu conhecimento sobre suas ancestrais? O que você sabe sobre a vida sexual da sua mãe, da sua avó e bisavó? Qual a origem dos seus bloqueios? Se algumas doenças são hereditárias, não seria possível que os traumas, registrados no material genético da sua tataravó, pudessem percorrer o mesmo caminho das doenças e chegar até você? Essa reflexão está além do físico. Não sou médica, cientista ou psicóloga, apenas estou considerando as questões energéticas que a todos envolvem. Energia nas suas mais variadas formas, ok? Pesquise um pouco sobre isso porque o assunto é vasto e realmente vale a pena!
Trabalhar o pecado como “reio” resulta numa tragédia pessoal; dificulta, inibe, trava, enrijece, bloqueia e faz sofrer demais. Por outro lado, embutir em sua filha a ideia da perfeição que ela “merece” é criar condições para o caos. Uma mulher que cresce acreditando em príncipe encantado “quebra a cara” na primeira oportunidade ou passa a vida se esforçando para sustentar um cenário, uma rotina falsamente construída sobre expectativas que ela criou ou os outros criaram para ela. Já a busca desesperada pelo prazer é o que existe de mais frustrante em termos sexuais e levará, fatalmente, aos estados alterados de consciência. Em todos esses casos, a felicidade torna-se utopia e, como consequência natural, se apresentam os males modernos (depressão, estresse, ansiedade, síndrome do pânico,...).
O número de mulheres doentes é assustador. Mais assustador ainda é o fato delas DESCONHECEREM a causa do seu mal, que comumente é de ordem sexual.
Então, se você quer o melhor para a sua filha, trate-a como uma SÁBIA MULHER que apenas precisa ser RELEMBRADA de alguns registros LIBERTADORES que ela traz na alma. Essa é uma das suas funções como mãe. Ainda que você não tenha sido tratada assim, se esforce para transpor todas as dificuldades sexuais que hoje se apresentam para alcançar um benefício maior. Ao proporcionar isso à sua filha, a Mãe Natureza pode lhe recompensar de várias maneiras (inclusive despertando em você as informações libertadoras que traz em sua própria alma). Mas se você for meio para que isso seja uma verdade para muitas outras meninas, além da sua filha, silenciosos créditos serão gerados e uma paz profunda passará a povoar o seu entorno. Vale o esforço, acredite!
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